21 de abril de 2014

Tiradentes

Do romance Migo, de Darcy Ribeiro:

Cal

"Meio século correu com o povo agachado até chegar a hora e a vez de outro assinalado. O destino caiu, coroou desta vez a cabeça de Joaquim José, condenado pela Rainha Louca a morrer morte natural na forca, ser esquartejado e exposto para escarmento do povo. Despedaçado, lá ficaram suas partes apodrecendo, até que o tempo as consuma como queria dona Maria. Os quatro quartos plantados fedendo, na Estrada Real. A cabeça com a cabeleira e a barba, bastas, alçada num poste alto, em Ouro Preto, guardada por famintos urubus asas de ferro, bicos agudos: tenazes. Estes foram, só eles, seus coveiros. Acabado assim tão acabado, sem ao menos a caridade de cal virgem, Tiradentes não se acabou nem se acaba. Prossegue em nós, latejando. Pelos séculos continuará clamando na carne dos netos de nossos netos, cobrando de cada qual sua dignidade, seu amor à liberdade."

4 de abril de 2014

Mafalda


Topam debater, senhores candidatos?

Estava aqui pensando nas eleições deste ano. Faltam 6 meses. Existem muitos temas a discutir. O mais importante deles, penso, é a reforma política. Mas esse é um tema vasto demais, que não cabe inteiro aqui. Mas vamos fazer como se faz para comer mingau: vamos começar pelas beiradas...
Nosso sistema político eleitoral é uma baderna que tem sido administrada no decorrer dos anos de forma a facilitar a vida de quem já está no poder. Afinal de contas, são os eleitos que fazem as regras da eleição.
Discute-se atualmente, no Legislativo e no Judiciário, a proibição de doação de dinheiro por pessoas jurídicas para as campanhas eleitorais. Não acredito que fosse necessário discutir esse assunto, pois o óbvio não precisa ser debatido para ser demonstrado. O óbvio é o óbvio e está aí para quem quiser ver. Quem não quer ver, cria um grupo de trabalho para debater o assunto. Mas, vamos esperar que a sensatez prevaleça e que a proibição vire lei e/ou precedente judicial.
É interessante pensar como seriam as campanhas sem os milhões das grandes empresas. Será que os grandes marketeiros trabalhariam nas campanhas? Considerando que partidos políticos não têm lucro, quem pagaria os seus dourados honorários?
Ao contrário do que acontece com a proibição das doações "pejotistas" para as campanhas, há muitos assuntos que não são óbvios e merecem ser debatidos. Para estes, como eleitora, gostaria muito de ver um debate entre os candidatos. Um debate franco, aberto, sem maquiagem, com iguais oportunidades para todos os candidatos.
Pergunta-se: Eles topam debater? E se o debate fosse obrigatório?
Minha imaginação criou um cenário: todos os candidatos, acompanhados somente dos seus candidatos a vice, sendo questionados por pessoas dos mais variados setores da sociedade, escolhidos aleatoriamente. E, tratando-se de um debate, e não de uma entrevista, os participantes poderiam retrucar e reperguntar.
Que tal, senhores candidatos, topam?