26 de novembro de 2014

Carta aberta ao Conjunto Nacional

São Paulo, 26 de novembro de 2014.

Prezados Senhores administradores do Condomínio Conjunto Nacional,

Sou frequentadora desse condomínio há muitos anos. Chego a ele pelos mais diferentes meios de transporte: a pé, de ônibus, de metrô, de carro e, também, de bicicleta.

O Conjunto Nacional não é somente um condomínio de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais. É um dos edifícios de São Paulo que mais atende ao correto uso do espaço urbano, pois combina espaços públicos e privados, dando lugar, inclusive, a manifestações artísticas e culturais.

Há algum tempo, o Conjunto Nacional parecia ser um local “amigo” do ciclista, pois ofertava acesso a um bicicletário razoavelmente espaçoso e seguro.

Nós, ciclistas, agradecemos, mas é preciso esclarecer que essa “gentileza” é nada mais que a obediência a duas leis municipais:

Lei nº 13.995/2005

Art. 1º Fica estabelecida a obrigatoriedade de criação de estacionamentos para bicicletas em locais de grande afluxo de público, em todo Município de São Paulo.
Art. 2º Para fins desta lei entende-se como locais públicos de grande afluxo os seguinte estabelecimentos:
a) órgãos públicos municipais;
b) parques;
c) shopping centers;
d) supermercados;
e) instituições de ensinos públicos e privados;
f) agências bancárias;
g) igrejas e locais de cultos religiosos;
h) hospitais;
i) instalações desportivas;
j) museus e outros equipamentos de natureza culturais (teatro, cinemas, casas de cultura, etc.); e
k) indústrias.
Art. 3º A segurança dos ciclistas e dos pedestres deverá ser determinante para a definição do local na implantação do estacionamento de bicicletas.
Art. 4º Os estacionamentos de bicicletas poderão ser de dois tipos, a saber:
I – bicicletários – local destinado ao estacionamento de bicicletas, por período de longa duração, podendo ser público ou privado;
II – paraciclo – local em via pública, destinado ao estacionamento de bicicletas, por período de curta e média duração.

Lei nº 14.266/2007

Art. 8º Os terminais e estações de transferência do SITP, os edifícios públicos, as indústrias, escolas, centros de compras, condomínios, parques e outros locais de grande afluxo de pessoas deverão possuir locais para estacionamento de bicicletas, bicicletários e paraciclos como parte da infra-estrutura de apoio a esse modal de transporte.
§ 1º O bicicletário é o local destinado para estacionamento de longa duração de bicicletas e poderá ser público ou privado.
§ 2º O paraciclo é o local destinado ao estacionamento de bicicletas de curta e média duração em espaço público, equipado com dispositivos para acomodá-las.

Infelizmente, em nossa cidade, o cumprimento das leis parece ser facultativo, pois a grande maioria dos estabelecimentos obrigados a oferecer bicicletários e paraciclos finge que essas leis não existem e a nossa Prefeitura parece não ter condições de efetivamente implementar o Sistema Cicloviário previsto na Lei nº 14.266/2007.

Após tais esclarecimentos, chego ao motivo de minha carta: estive ontem no Condomínio Conjunto Nacional com o intuito de comprar alguns livros na Livraria Cultura. Ao me dirigir ao funcionário do estacionamento para solicitar acesso ao bicicletário, que fica trancado, fui surpreendida pela pergunta: “Você tem o chaveirinho?”

Ao notar minha surpresa, o funcionário me esclareceu que, agora, para ter acesso ao bicicletário do Conjunto Nacional, o ciclista deverá portar um “chaveirinho” para abrir a porta e que esse dispositivo custa R$ 15,00 (quinze reais).

A aquisição desse dispositivo, com o pagamento do valor de R$ 15,00 uma única vez, pode parecer inofensiva e até conveniente para aqueles ciclistas que frequentam o Conjunto Nacional diariamente, pois não se faz necessário ir até o funcionário do estacionamento, solicitar o acesso e registrar seu nome e RG. Basta entrar, usar o chaveiro para abrir o bicicletário e ter acesso ao local, sem a intervenção de nenhum dos funcionários do condomínio.

Mas, analisando a situação com um pouco mais de cuidado, verificamos que a nova forma de administrar o bicicletário não só exclui o visitante eventual, como fragiliza a segurança.

Vamos imaginar, por hipótese, que todos os estabelecimentos obrigados a oferecer bicicletário resolvam instituir regra similar, exigindo que o ciclista adquira e porte algum dispositivo para acessar o bicicletário. Quantos “chaveirinhos” o ciclista deverá portar consigo? Qual seria o valor de tal gasto, ainda que único?

Um chaveiro para a academia, um para o supermercado, um para o local de trabalho, um para o prédio do dentista, outro para o edifício do médico, mais um para a escola dos filhos, outro para a faculdade, mais um para a escola de línguas, um para cada shopping center, outro para o cinema, etc. Essa lista teria fim? Os chaveirinhos caberiam na mochila?

Não fosse esse um problema, a utilização de tal dispositivo gera insegurança, pois permite o acesso a todas as bicicletas guardadas no bicicletário sem a intervenção de um funcionário, ou seja, sem o mínimo controle.

Imagino que o condomínio registre o nome e o documento pessoal de cada ciclista que adquire o chaveiro, mas será que há um real controle de quem utiliza o chaveiro?

Tenho consciência que segurança total e indefectível é inalcançável, mas gostaria de apelar para o bom senso dos Senhores, pois a nova forma de administrar o bicicletário não parece oferecer vantagens, pois impossibilita o acesso do usuário eventual e fragiliza a segurança.

Por fim, resta-me lamentar, pois vejo-me obrigada a deixar de frequentar o Conjunto Nacional. Procurarei utilizar outro cinema, outra livraria, outros bancos, outros restaurantes, outros locais que sejam mais receptivos ao ciclista.

Atenciosamente,

Lydia Brasil









15 de setembro de 2014

Educação e respeito

Ontem, um ciclista que estava na ciclovia da Av. Braz Leme foi atropelado por um carro cujo motorista “perdeu o controle” da direção.
A notícia assusta, ainda mais porque a ciclovia da Braz Leme fica no canteiro central, elevada em relação à faixa de rolamento dos carros. É como se o carro tivesse subido a calçada.
Mas o que assusta mais do que a notícia é o comentário de uma leitora do jornal O Estado de São Paulo:
“Começaram os acidentes, e não será o único, estão fazendo ciclovias sem planejamento e sem saber se será necessário e utilizadas. Onde moro fizeram uma que já proibi meus filhos de usá-la, pois qualquer deslize ele sai fora da via e é atropelado. Sou contra essas ciclovias.”
A leitora, em seu comentário, dá a entender que a culpa pelo acidente é de quem construiu a ciclovia. Será?
Deveremos, então, apagar todas as ciclovias do mapa de São Paulo? Deveremos também apagar todos os ciclistas? Não seria melhor sumirmos com todos os pedestres das ruas de São Paulo e entregá-las inteiramente aos carros? Quem sabe assim acabamos com os atropelamentos...
Desculpem a ironia, mas argumentos absurdos têm esse efeito sobre mim.
A bicicleta, segundo o Código Brasileiro de Trânsito, é um veículo e, como qualquer outro veículo, motorizado ou não, tem direito de ocupar as vias. A construção de ciclovias em algumas ruas e avenidas tem como objetivo principal dar segurança ao ciclista.
Dizer que esse acidente ocorreu e que outros ocorrerão por culpa da falta de planejamento na implantação das ciclovias é absurdo, pois se não houvesse a ciclovia, o ciclista poderia estar na avenida, ao lado dos veículos motorizados, e, aqui, deveria também ser respeitado.
Não estou em defesa da Prefeitura de São Paulo, mas, nesse caso, a culpa pelo acidente não é de quem construiu a ciclovia, nem do ciclista, mas sim do motorista do veículo que “perdeu o controle” deste.

Hoje de manhã, um outro motorista “perdeu o controle” do carro e avançou sobre um ponto de ônibus. Atropelou cinco pessoas, matando uma de imediato. Se seguirmos o raciocínio daquela leitora, a culpa é de quem colocou o ponto de ônibus naquele local. Mas que raios! Por que motivo alguém colocaria um ponto de ônibus sobre uma calçada que poderia ser facilmente acessada por um veículo fora de controle?
Algumas notícias posteriores dão conta de que esse motorista teria ingerido bebida alcoólica antes de dirigir. Será que ele realmente “perdeu o controle”? Será que ele tinha o controle do carro?

Algumas pessoas estão muito bravas com a Prefeitura em razão da implantação das ciclovias. Em alguns casos, estão bravas porque terão menos vagas para estacionar seus carros. Em outros, estão bravas porque as ciclovias são vermelhas. Há, ainda, quem esteja bravo porque estão investindo em estrutura para bicicletas e não para carros. Há, também, quem esteja bravo por não ter tido essa ideia antes...
Segundo matéria publicada pelo Portal G1 (http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/09/prefeitura-preve-rua-25-de-marco-na-lista-de-novos-64-km-de-ciclovias.html), a cidade de São Paulo tem 17.200 km de vias pavimentadas. Quando tivermos os 400 km de ciclovias prometidos pela Prefeitura, a estrutura cicloviária de nossa capital corresponderá a apenas 2,32% da estrutura total. Será que é pedir demais que os ciclistas disponham de tão ínfima parcela na estrutura viária?


Eu sou ciclista, mas também sou pedestre, motorista e passageira de transporte público. E, pela minha experiência, pessoas imprudentes serão imprudentes seja qual for o meio de transporte que utilizem. Toda essa discussão se resume à necessidade de mais educação e respeito para todos os lados.

7 de setembro de 2014

Direito à ignorância

Sabe aquela frase "cada cabeça uma sentença"? Eu a reescreveria assim: cada cabeça um universo ou, ainda, cada cabeça uma verdade.
As nossas verdades nem sempre são tão verdadeiras assim para os outros. Existem coisas muito claras para mim, coisas sobre as quais estou decididamente convencida, que são completamente desconhecidas para outras pessoas, até para pessoas bem próximas.
Isso vai de música até comida.
Para mim, Club des Belugas é simplesmente sensacional! Mostrei para os meus irmãos e eles deram de ombros... Ok!
Evitar comida com agrotóxicos é vital, mas a maioria da humanidade não parece se importar muito com isso. Muitos dizem que procurar alimentos orgânicos dá muuuito trabalho e é muuuito caro.
Cuidar da saúde, para pessoas que pensam assim, é pagar um bom plano de saúde...
Ai, ai... Alguns assuntos, como o uso de agrotóxicos, me fazem beirar o proselitismo.
E uma questão tem me perseguido atualmente: nós temos direito de sermos ignorantes e de permanecermos na ignorância sobre determinados temas?
Afinal, a ignorância é uma bênção!
A vida era mais fácil quando eu não me preocupava com o lixo que eu produzia, quando eu não sabia da quantidade de agrotóxicos que se esconde naquela salada super saudável, quando eu me considerava uma pessoa apolítica.
A vida não é fácil! O meu lixo é de minha responsabilidade. Eu tenho que correr atrás de comida saudável realmente saudável e a feirinha da Água Branca não acontece todos os dias. E política é chata e complicada, mas é essencial para tudo!
Pensar dói!

Novidades
Uma das melhores coisas da vida, a meu ver, é descobrir coisas novas e diferentes. Só para citar dois exemplos: uma banda desconhecida da Noruega, chamada Jaga Jazzist, e uma experiência com a comida macrobiótica. Agora sou macrobiótica, mas só na hora do almoço. rs...





31 de julho de 2014

"O Brasil não é para principiantes"

Depois de um tempinho afastada do blog e do Brasil, volto com um sentimento de que temos muito, mas muito trabalho a fazer para nos tornarmos uma sociedade civilizada.
E não há fórmula mágica. A solução é simples, mas demanda muito esforço e tempo. Precisamos de educação. Não estou falando só de educação nos bancos da escola, mas também da educação que recebemos em casa, de valores familiares, de ética, respeito e cultura.
Durante uma breve viagem ao exterior, me dei conta de que nós brasileiros estamos sempre na defensiva, esperando ser ludibriados pelos outros. Estamos sempre com o pé atrás, pois aqui não se pode confiar em estranhos e, às vezes, nem em conhecidos...
Digo isso porque me peguei surpreendida nas situações em que estranhos acreditaram na minha palavra sem que eu precisasse apresentar documentos, provas ou recibos.
A regra lá é a obediência às regras, enquanto aqui... nós já sabemos... "O Brasil não é para principiantes" (frase atribuída a Antonio Carlos Jobim).

Para despertar de vez do sonho, fiquei sabendo hoje de manhã, pelo rádio, que a tarifa da Zona Azul será reajustada amanhã. Como tinha algumas coisas para resolver na rua, aproveitei para comprar um novo talão. Entrei em vários revendedores, mas não havia mais nenhum talão à venda. O argumento dos revendedores é de que a CET não forneceu talões essa semana. Desconfiei da conversa, mas não havia o que fazer. Fui, então, ao posto de revenda no Parque do Ibirapuera. Cheguei lá junto com um funcionário que estava trazendo duas pilhas de talões para a revenda. Comentei com ele a dificuldade de conseguir talões. Ele disse que o problema era generalizado e que a conversa de que a CET não havia fornecido talões essa semana era falsa.
Amanhã os talões devem aparecer como mágica nos balcões dos revendedores.

8 de maio de 2014

Queremos respostas!

Locomover-se de bicicleta pela cidade de São Paulo é uma experiência única! Envolve coragem, planejamento, tempo, previdência, bom humor e muuuuuita paciência!
Essa semana fui a dois pontos turísticos da nossa cidade: o bairro da Liberdade e o Largo São Bento.
O site do metrô diz que há um bicicletário no metrô Liberdade, mas como eu não acredito em tudo que se escreve na internet, resolvi checar antes de descer as escadas da estação, já que lá não há rampas.
Chegando à praça da Liberdade, vi uma unidade móvel da Guarda Civil Metropolitana. Perguntei a um dos Oficiais sobre a localização do bicicletário do metrô e ele me disse que havia sido desativado. Perguntei, então, onde eu poderia deixar a minha bicicleta por ali e vi aquela expressão de perplexidade no rosto do GCM. Ele parecia se perguntar: "por que raios alguém tentaria chegar até ali de bicicleta?". Como já era de se esperar, ele não tinha resposta a me dar.
Perguntei a ele se eu poderia prender a minha bicicleta em um poste próximo à viatura da GCM. Deixei bem claro que eu não estava pedindo para ele "guardar" a minha bicicleta. Escolhi aquele lugar porque confiava que ninguém seria tão ousado a ponto de tentar cortar a corrente às vistas da GCM.
Ele só disse que não poderia garantir a segurança, pois, se houvesse uma ocorrência, eles poderiam ter que deixar o local. Eu agradeci e fui fazer o que tinha que fazer.
Na volta, a bicicleta estava lá, sã e salva! Agradeci a gentileza dos GCM e fui embora.
No dia seguinte, foi a vez do Largo São Bento. Eu lembrava que lá havia uma espécie de quiosque da Polícia Militar. Bingo! Pensei eu. Bastava fazer o mesmo que eu fiz na Liberdade: prender a bicicleta a um poste próximo da PM. 
Cheguei lá, dei bom dia ao Oficial e fiz a pergunta fatal: "há algum lugar por aqui em que eu possa deixar a minha bicicleta?" Mais uma vez, vi aquele olhar de perplexidade! Ele disse não. Era a deixa para a pergunta retórica: "Posso, então, prender a minha bicicleta nesse poste?" Ele parou por um instante e disse que havia uma lei municipal que proibia que se prendessem bicicletas em postes. Aí quem parou por um instante fui eu. Pelo jeito, a pergunta não era tão retórica assim. 
Que eu saiba, não existe lei com tal teor. Mas, ficou bem claro que o Oficial não gostou da ideia de eu deixar a bicicleta por ali... Entendi que não adiantava discutir com ele.
Neste exato momento, passa uma viatura da CET pelo local. Eu abordei os Oficiais da CET, repeti a bendita pergunta e, pela terceira vez, recebi de volta o olhar perplexo. Não obtive resposta, mas um conselho: "você não deveria andar de bicicleta!"
Ouvir isso de alguém que trabalha no órgão que cuida do nosso trânsito é desalentador e transparece o despreparo de nossas autoridades para garantir os direitos do ciclista.
Tentei ser simpática com ele e disse que eu e todos os outros ciclistas confiávamos nele e em todos os Oficiais da CET para garantir a nossa segurança. Acho que ele não gostou muito de eu ter-lhe dado tal responsabilidade...
Daí, só me restou ir até o metrô Sé, onde sabia haver um bicicletário. Chegando lá, o bicicletário estava fechado e havia um aviso: "Volto já". Imaginei que o funcionário deveria ter ido ao banheiro e resolvi esperar. Alguns minutos depois, ele chegou e consegui, finalmente, deixar a minha bicicleta em um local seguro. Mas tive que andar um pouquinho até o Largo São Bento.
Foi a primeira vez que fui ao metrô Sé de bicicleta. Sempre usei as escadas próximas ao Tribunal de Justiça. Só depois que entrei na estação carregando a bicicleta escada abaixo percebi que havia rampas na entrada do lado oposto. Ocorre que nessa rampa havia uma aglomeração estranha de pessoas. Confesso que fiquei com medo de passar ali sozinha. Mas isso é assunto para outra conversa...
Hoje, li na Folha de São Paulo, uma entrevista da repórter Vanessa Correa com o Superintendente de Planejamento da CET, Ronaldo Tonobohn. Fiquei feliz com a entrevista, pois, pelo menos, há alguém na CET pensando nos ciclistas. Mas fiquei com vontade de fazer algumas perguntas ao Sr. Tonobohn.
Entre outros pontos, ele disse que a CET está trabalhando em um projeto de redução de limite de velocidade para melhorar as condições de compartilhamento das vias. Que bom, não é? É bom, mas não é o suficiente. Eu perguntaria: "de que adianta reduzir a velocidade máxima nas vias se não há fiscalização?" Qualquer um que saia de casa vê que não se respeita limite de velocidade em São Paulo, a não ser nos trechos onde há lombadas eletrônicas. Colocar placas de 30km/h, 40km/h ou 50km/h não é garantia de que os motoristas respeitarão o limite. Onde está fiscalização?
Não poderia deixar de fazer a pergunta fatal: "onde posso parar a minha bicicleta?" Salvo honrosas exceções (SESC, poucas estações do metrô e pouquíssimas empresas), simplesmente não existem locais seguros para parar a bicicleta em São Paulo. Os estacionamentos não nos aceitam e a grande maioria dos órgãos públicos ignora a existência dos ciclistas. No Município de São Paulo existem três leis que obrigam a oferta de bicicletários nos mais variados equipamentos urbanos, públicos e privados: Lei 13.995/2005, Lei 14.266/2007 e Lei 15.649/2012. Por que essas leis não são respeitadas? O que a CET e a Prefeitura têm feito para efetivar essas normas?
Queremos respostas!

http://saxmozartfaggi.wordpress.com/2012/04/21/eutu-ele-ve/

1 de maio de 2014

Solidão não!

Apesar do frio e da gripe que se instalou em mim essa semana, fiquei muito feliz, pois tenho visto cada vez mais ciclistas encarando o trânsito de São Paulo.
Na segunda-feira, cheguei a contar seis ciclistas durante o meu trajeto de poucos quilômetros. Parece muito pouco, não é? Mas para mim, que sentia uma profunda solidão no trânsito, seis é uma multidão.
Outro encontro que me deixou imensamente feliz foi com uma senhora dos seus 60 anos, em sua bicicleta, aparentemente voltando do supermercado. Tive que segurar o ímpeto de ir lá e dar um grande beijo nela, pois a presença dela na rua é a prova viva de que é possível humanizar o trânsito de São Paulo. Consegui me conter e limitei-me a dar-lhe os parabéns.
Ocupar o nosso espaço é uma das formas mais eficientes de educar todos os agentes que compõem o trânsito: pedestres, motoristas, passageiros, motociclistas e agentes fiscalizadores.
É muito curioso observar a reação das crianças ao me ver pedalando pela cidade. Elas entortam o pescoço observando aquele ser estranho, com tantas luzinhas piscantes, usando capacete e uma roupa amarelo limão com refletivos. Torço para que elas comecem a achar normal ver ciclistas na rua, pois daqui a uma década elas estarão atrás dos volantes.
Estar na rua, por si só, é um ato de reivindicação de direitos.
A lei existe. Ela nos dá o direito de trafegar em qualquer via. E nós dá também a preferência em relação aos veículos automotores.
Portanto, caro motorista, seja gentil e respeite a lei. Não buzine, não acelere, não tente "dar uma fina" no ciclista. Ele tem preferência em relação ao seu automóvel, pois ele é mais fraco. Ele não tem um motor. Ele não polui e não causa congestionamentos. 
Esse é um ponto importante de ser discutido: apesar do ciclista não conseguir atingir a velocidade potencial de um automóvel, ele não causa congestionamentos. O que causa congestionamentos é a ocupação do espaço das vias por milhares de veículos carregando, em sua grande maioria, uma única pessoa. Se todas as pessoas estivessem em bicicletas, o trânsito fluiria facilmente...
Segundo pesquisa publicada pela CET em 2013, a velocidade média nas vias arteriais da cidade no horário de pico da tarde/noite é de 15 km/h, velocidade facilmente ultrapassada por qualquer bicicleta. Portanto, não nos culpe pelo seu atraso. Basta sinalizar, ultrapassar mantendo a distância de 1,5m e seguir em frente, na velocidade que a lei e o congestionamento permitirem.

ilustração: Rey Berto
fonte: http://espn.uol.com.br/fotos/406976_as-melhores-de-rey-berto-em-abril-de-2014-bike-e-legal

21 de abril de 2014

Tiradentes

Do romance Migo, de Darcy Ribeiro:

Cal

"Meio século correu com o povo agachado até chegar a hora e a vez de outro assinalado. O destino caiu, coroou desta vez a cabeça de Joaquim José, condenado pela Rainha Louca a morrer morte natural na forca, ser esquartejado e exposto para escarmento do povo. Despedaçado, lá ficaram suas partes apodrecendo, até que o tempo as consuma como queria dona Maria. Os quatro quartos plantados fedendo, na Estrada Real. A cabeça com a cabeleira e a barba, bastas, alçada num poste alto, em Ouro Preto, guardada por famintos urubus asas de ferro, bicos agudos: tenazes. Estes foram, só eles, seus coveiros. Acabado assim tão acabado, sem ao menos a caridade de cal virgem, Tiradentes não se acabou nem se acaba. Prossegue em nós, latejando. Pelos séculos continuará clamando na carne dos netos de nossos netos, cobrando de cada qual sua dignidade, seu amor à liberdade."

4 de abril de 2014

Mafalda


Topam debater, senhores candidatos?

Estava aqui pensando nas eleições deste ano. Faltam 6 meses. Existem muitos temas a discutir. O mais importante deles, penso, é a reforma política. Mas esse é um tema vasto demais, que não cabe inteiro aqui. Mas vamos fazer como se faz para comer mingau: vamos começar pelas beiradas...
Nosso sistema político eleitoral é uma baderna que tem sido administrada no decorrer dos anos de forma a facilitar a vida de quem já está no poder. Afinal de contas, são os eleitos que fazem as regras da eleição.
Discute-se atualmente, no Legislativo e no Judiciário, a proibição de doação de dinheiro por pessoas jurídicas para as campanhas eleitorais. Não acredito que fosse necessário discutir esse assunto, pois o óbvio não precisa ser debatido para ser demonstrado. O óbvio é o óbvio e está aí para quem quiser ver. Quem não quer ver, cria um grupo de trabalho para debater o assunto. Mas, vamos esperar que a sensatez prevaleça e que a proibição vire lei e/ou precedente judicial.
É interessante pensar como seriam as campanhas sem os milhões das grandes empresas. Será que os grandes marketeiros trabalhariam nas campanhas? Considerando que partidos políticos não têm lucro, quem pagaria os seus dourados honorários?
Ao contrário do que acontece com a proibição das doações "pejotistas" para as campanhas, há muitos assuntos que não são óbvios e merecem ser debatidos. Para estes, como eleitora, gostaria muito de ver um debate entre os candidatos. Um debate franco, aberto, sem maquiagem, com iguais oportunidades para todos os candidatos.
Pergunta-se: Eles topam debater? E se o debate fosse obrigatório?
Minha imaginação criou um cenário: todos os candidatos, acompanhados somente dos seus candidatos a vice, sendo questionados por pessoas dos mais variados setores da sociedade, escolhidos aleatoriamente. E, tratando-se de um debate, e não de uma entrevista, os participantes poderiam retrucar e reperguntar.
Que tal, senhores candidatos, topam?

28 de março de 2014

Nenhures

Mais uma do Michaelis:

nenhures 
ne.nhu.res 
adv (de nenhump us Em nenhuma parte.

A vida não é fácil. E para o ciclista, a vida não é fácil nenhures...
Esta placa está afixada em frente ao Terminal 4 do Aeroporto Internacional de Cumbica.

Leia-se: se você conseguiu chegar até aqui de bicicleta, ainda não é aqui que pode ficar. Pedale mais um pouco e vá até o terminal 1 ou até o terminal de carga e volte andando.

No detalhe, atrás da grade, o vasto espaço dedicado ao estacionamento de automóveis. 

Vamos ter fé! A GRU Airport deve ter um motivo muuuito forte para não ter um bicicletário no terminal 4. 




É preciso lutar contra o absurdo!

Eu me considero uma pessoa otimista. Apesar de tudo contra, acredito na humanidade, no bem e na paz. Apesar da violência gratuita, da poluição e da ganância, eu tenho fé que a boa vontade prevalecerá. 
Minha esperança recebeu um murro na cara: foi divulgada uma pesquisa que retrata que 65% dos brasileiros acreditam que se as mulheres vestissem roupas adequadas haveria menos estupros.
É até difícil comentar...
É preciso admitir que a maioria dos brasileiros é composta de pessoas com mente machista. Pessoas que culpam a vítima pela agressão que sofreu.
Aceita essa premissa, é preciso lutar contra o absurdo.
O que é uma "roupa adequada"?
A burca é adequada?
O que é adequado vestir na praia? Biquíni ou burca?
Lembrei-me do caso da atriz Betty Faria, que, moradora do Rio de Janeiro, resolveu ir à praia num belo dia de sol. E foi vestindo o quê? Um biquíni, lógico!
Lógico nada! A patrulha da vida alheia resolveu crucificá-la na internet porque ela já não teria a idade ADEQUADA para vestir um biquíni.
E aí? Seria mais adequado que ela vestisse uma burca? Por que ela não pode vestir um biquíni?
Ela pode! Ela é livre! Nós somos livres! Ninguém tem o direito de questionar o que vestimos. E ninguém tem o direito de nos agredir usando um pretexto estapafúrdio como esse.
É que é muito mais fácil apontar o defeito no outro, enquanto a selvageria e a bestialidade está dentro de nós.
É preciso lutar contra o absurdo!

27 de março de 2014

Passeio com obstáculos

Li por aí que a ciclovia da Av. Sumaré deixou de ser ciclovia para se tornar um "passeio". Mas o passeio por lá ficou mais difícil depois da última intervenção da Prefeitura de São Paulo.
Entre o final de 2013 e o início de 2014, a Prefeitura realizou algumas obras no passeio da Av. Sumaré. 
Reformou (e melhorou) o trecho próximo à Praça Marrey Júnior, que havia sido negligenciado na reforma anterior (gestão Kassab). 
Fez outras duas intervenções nos cruzamentos com as Ruas Apinajés e Vanderlei. 
No primeiro, a Prefeitura abriu passagem para os carros que vêm da Rua Apinajés cruzarem a Av. Sumaré. 

No segundo, a obra "comeu" um pedaço do canteiro central para facilitar a conversão à esquerda dos carros que vêm da Rua Vanderlei. 

Ocorre que, em ambos os casos, no lugar de guias rebaixadas, a obra deixou guias elevadas, o que dificulta o acesso de ciclistas e impossibilita o acesso de cadeirantes. O ciclista ainda pode desmontar e subir a guia empurrando a bicicleta. E o cadeirante, como faz?
Em 14 de janeiro de 2014, abri protocolo no SAC solicitando uma posição da Prefeitura sobre o assunto. Mais de um mês depois, como não obtive resposta, fiz nova solicitação, desta vez na Ouvidoria da Prefeitura.
Hoje, 27 de março de 2014, recebi um telefonema da Ouvidoria. Fiquei toda feliz! Oba, pensei, resolveram o problema! 
Que nada! A funcionária da Ouvidoria estava me ligando tão-somente para me informar o número do protocolo da reclamação registrada eletronicamente há mais de um mês!
Pergunta-se:
Se levaram mais de um mês só para gerar o número do protocolo, quanto tempo devo esperar para uma resposta da Ouvidoria? 
Quem deverá ter tido a brilhante ideia de deixar as guias elevadas?
Se a Prefeitura considerar que houve um erro na obra, quanto tempo levará para consertá-la?
Se houver o conserto com o rebaixamento da guia, quem arcará com os custos?
Prometo contar os próximos capítulos, mas pode demorar...

Propaganda para princesas

Gosto de ouvir rádio. Música e notícia. A notícia no rádio é mais rápida e menos engomadinha. A música no rádio tem um efeito surpresa que o MP3 player não tem. Você nunca vai conhecer uma música nova ou um cantor desconhecido dentre os arquivos digitais guardados no seu telefone ou tocador.
Entendo que num sistema capitalista as empresas de rádio são sustentadas pela propaganda (sem falar no jabá, mas isso é assunto pra outro dia). Ela é um mal necessário. Por vezes, até diverte. Mas, ultimamente a propaganda tem me incomodado. 
Há uma peça publicitária de uma empresa de seguros (ligada a um banco) que mostra a conversa entre pais e filhos. O pai diz ao filho que quando ele crescer será o homem da casa e terá que trocar lâmpadas, consertar eletrodomésticos e outras coisas supostamente masculinas. Já a mãe diz à filha que ela, ao se tornar adulta, terá vida de princesa. Daí a propaganda segue para vender o seu peixe: um seguro voltado para o público feminino.
Acho que não entendi. Se essa empresa está vendendo seguros para mulheres, o público-alvo dela é formado por mulheres que podem pagar pelo seu próprio seguro e não por princesas. Afinal, princesas não têm que se aborrecer com questões prosaicas como seguros, corretores, prêmios e sinistralidade.

Sabe quando eu vou contratar o seguro dessa empresa? Nunca!
Sabe por quê? Porque eu e ela vivemos em mundos diferentes.
No meu mundo, trocar lâmpadas, fazer pequenos consertos em casa, cuidar do lugar onde se vive são coisas habituais de pessoas independentes, homens ou mulheres, que não precisam de ajuda para amarrar os cadarços.

Talvez eu esteja sendo muito crítica. Mais crítica a cada dia. É por essa razão que vejo cada vez menos TV. O problema é que tenho tido cada vez menos vontade de ouvir rádio também... 

24 de março de 2014

Sim, é possível!

Vivo ouvindo que "São Paulo não está preparada para o ciclista" ou que "geograficamente, São Paulo não é uma cidade adequada ao ciclista". De certa forma, essas sentenças estão corretas, pois, de fato, não há estrutura viária adequada à bicicleta e São Paulo tem ladeiras. 
O problema é que essas frases são usadas como desculpa para não incentivar ou não investir no uso da bicicleta como meio de transporte.
Hoje, aprendi mais um argumento para defender a bicicleta como meio de transporte. Descobri um equipamento urbano, já utilizado na Noruega (Claro! Onde mais?), que facilita a tarefa de vencer subidas íngremes. Ajuda até quem está empurrando um carrinho de bebê.
Sim, é possível pedalar em São Paulo!
Basta querer!
Agradecimentos ao Portal Mobilize Brasil (www.mobilize.org.br) por divulgar a informação.
Link para a notícia no portal:
Cidade norueguesa disponibiliza ajuda para ciclistas encararem subidas
Link para o site do equipamento:
http://trampe.no/en/home

22 de março de 2014

Marchas, paradas e paradoxos

Faltam alguns dias para os 50 anos do golpe militar de 64 e hoje alguns grupos realizaram a Marcha da família com "Deus" pela "liberdade". Digo Deus e liberdade entre aspas porque não acredito que Ele esteja envolvido nisso nem que esse movimento seja pela liberdade de quem quer que seja, nem deles próprios. Afinal de contas, eles só puderam ir às ruas hoje porque a ditadura não existe mais.

Hoje é o dia mundial da água. Em São Paulo, estamos à beira de um racionamento, enquanto Porto Velho está embaixo d'água. Alguma coisa está fora da ordem... Ou será que temos uma nova ordem e devemos correr para nos adaptar a ela? Fechemos nossas torneiras!

Alguns significados (retirados do dicionário Michaelis) para aprender e refletir:

paradoxo 
pa.ra.do.xo 
(cssm (gr parádoxos1 Opinião contrária à comum. 2 Afirmação, na mesma frase, de um conceito mediante aparentes contradições ou termos incompatíveis.

contradição 
con.tra.di.ção 
sf (lat contradictione1 Ação de contradizer; afirmação em contrário do que foi dito. 2 Incoerência entre afirmações atuais e anteriores, entre palavras e ações. 3 Oposição entre duas proposições, das quais uma exclui necessariamente a outra. 

incoerência 
in.co.e.rên.cia 
sf (in+coerência1 Falta de coerência. 2 Qualidade de incoerente. 3 Falta de harmonia com os antecedentes.

fábio moon e gabriel bá


21 de março de 2014

E o blog nasceu!

Outro dia ouvi de um especialista em geriatria que uma forma muito eficaz de manter a mente jovem seria aprender uma coisa nova por dia.
Hoje, enquanto estudava língua portuguesa, essa ideia voltou à minha mente.
Comecei, então, a pensar qual seria a melhor maneira de registrar os novos conhecimentos e aprendizados diários. Adoro papel, lápis, agendas e cadernos, mas estou numa fase mais social. Então, resolvi começar a escrever esse blog.

Apesar de ter estudado língua portuguesa o dia todo, o aprendizado que quero registrar hoje veio de uma breve pesquisa em administração financeira.
Aprendi o significado de CUSTO DE OPORTUNIDADE, que representa aquilo que deixamos de fazer para executarmos outras tarefas às quais demos prioridade.
E isso me trouxe uma inquietação: pensar no custo de oportunidade pode trazer uma certa ansiedade adicional para os ansiosos. Pensar no custo de oportunidade de meditar, por exemplo, certamente bloqueará a capacidade de esvaziar a mente.
Por outro lado, refletir sobre o custo de oportunidade pode nos ajudar a fazer a melhor escolha entre várias opções de atividades.

Qual o custo de oportunidade de se deslocar pela cidade de carro?
Você perde a oportunidade de andar a pé e conhecer a cidade por outro ângulo. Você perde a oportunidade de pedalar e se exercitar enquanto se desloca. Perde a oportunidade de não poluir. Perde tempo e paciência no trânsito e, por fim, perde dinheiro com combustível e estacionamento.

Parafraseando Martin Luther King: eu tenho um sonho! O meu sonho é ver a marginal Tietê repleta de bicicletas e nenhum carro, ônibus ou caminhão.