8 de maio de 2014

Queremos respostas!

Locomover-se de bicicleta pela cidade de São Paulo é uma experiência única! Envolve coragem, planejamento, tempo, previdência, bom humor e muuuuuita paciência!
Essa semana fui a dois pontos turísticos da nossa cidade: o bairro da Liberdade e o Largo São Bento.
O site do metrô diz que há um bicicletário no metrô Liberdade, mas como eu não acredito em tudo que se escreve na internet, resolvi checar antes de descer as escadas da estação, já que lá não há rampas.
Chegando à praça da Liberdade, vi uma unidade móvel da Guarda Civil Metropolitana. Perguntei a um dos Oficiais sobre a localização do bicicletário do metrô e ele me disse que havia sido desativado. Perguntei, então, onde eu poderia deixar a minha bicicleta por ali e vi aquela expressão de perplexidade no rosto do GCM. Ele parecia se perguntar: "por que raios alguém tentaria chegar até ali de bicicleta?". Como já era de se esperar, ele não tinha resposta a me dar.
Perguntei a ele se eu poderia prender a minha bicicleta em um poste próximo à viatura da GCM. Deixei bem claro que eu não estava pedindo para ele "guardar" a minha bicicleta. Escolhi aquele lugar porque confiava que ninguém seria tão ousado a ponto de tentar cortar a corrente às vistas da GCM.
Ele só disse que não poderia garantir a segurança, pois, se houvesse uma ocorrência, eles poderiam ter que deixar o local. Eu agradeci e fui fazer o que tinha que fazer.
Na volta, a bicicleta estava lá, sã e salva! Agradeci a gentileza dos GCM e fui embora.
No dia seguinte, foi a vez do Largo São Bento. Eu lembrava que lá havia uma espécie de quiosque da Polícia Militar. Bingo! Pensei eu. Bastava fazer o mesmo que eu fiz na Liberdade: prender a bicicleta a um poste próximo da PM. 
Cheguei lá, dei bom dia ao Oficial e fiz a pergunta fatal: "há algum lugar por aqui em que eu possa deixar a minha bicicleta?" Mais uma vez, vi aquele olhar de perplexidade! Ele disse não. Era a deixa para a pergunta retórica: "Posso, então, prender a minha bicicleta nesse poste?" Ele parou por um instante e disse que havia uma lei municipal que proibia que se prendessem bicicletas em postes. Aí quem parou por um instante fui eu. Pelo jeito, a pergunta não era tão retórica assim. 
Que eu saiba, não existe lei com tal teor. Mas, ficou bem claro que o Oficial não gostou da ideia de eu deixar a bicicleta por ali... Entendi que não adiantava discutir com ele.
Neste exato momento, passa uma viatura da CET pelo local. Eu abordei os Oficiais da CET, repeti a bendita pergunta e, pela terceira vez, recebi de volta o olhar perplexo. Não obtive resposta, mas um conselho: "você não deveria andar de bicicleta!"
Ouvir isso de alguém que trabalha no órgão que cuida do nosso trânsito é desalentador e transparece o despreparo de nossas autoridades para garantir os direitos do ciclista.
Tentei ser simpática com ele e disse que eu e todos os outros ciclistas confiávamos nele e em todos os Oficiais da CET para garantir a nossa segurança. Acho que ele não gostou muito de eu ter-lhe dado tal responsabilidade...
Daí, só me restou ir até o metrô Sé, onde sabia haver um bicicletário. Chegando lá, o bicicletário estava fechado e havia um aviso: "Volto já". Imaginei que o funcionário deveria ter ido ao banheiro e resolvi esperar. Alguns minutos depois, ele chegou e consegui, finalmente, deixar a minha bicicleta em um local seguro. Mas tive que andar um pouquinho até o Largo São Bento.
Foi a primeira vez que fui ao metrô Sé de bicicleta. Sempre usei as escadas próximas ao Tribunal de Justiça. Só depois que entrei na estação carregando a bicicleta escada abaixo percebi que havia rampas na entrada do lado oposto. Ocorre que nessa rampa havia uma aglomeração estranha de pessoas. Confesso que fiquei com medo de passar ali sozinha. Mas isso é assunto para outra conversa...
Hoje, li na Folha de São Paulo, uma entrevista da repórter Vanessa Correa com o Superintendente de Planejamento da CET, Ronaldo Tonobohn. Fiquei feliz com a entrevista, pois, pelo menos, há alguém na CET pensando nos ciclistas. Mas fiquei com vontade de fazer algumas perguntas ao Sr. Tonobohn.
Entre outros pontos, ele disse que a CET está trabalhando em um projeto de redução de limite de velocidade para melhorar as condições de compartilhamento das vias. Que bom, não é? É bom, mas não é o suficiente. Eu perguntaria: "de que adianta reduzir a velocidade máxima nas vias se não há fiscalização?" Qualquer um que saia de casa vê que não se respeita limite de velocidade em São Paulo, a não ser nos trechos onde há lombadas eletrônicas. Colocar placas de 30km/h, 40km/h ou 50km/h não é garantia de que os motoristas respeitarão o limite. Onde está fiscalização?
Não poderia deixar de fazer a pergunta fatal: "onde posso parar a minha bicicleta?" Salvo honrosas exceções (SESC, poucas estações do metrô e pouquíssimas empresas), simplesmente não existem locais seguros para parar a bicicleta em São Paulo. Os estacionamentos não nos aceitam e a grande maioria dos órgãos públicos ignora a existência dos ciclistas. No Município de São Paulo existem três leis que obrigam a oferta de bicicletários nos mais variados equipamentos urbanos, públicos e privados: Lei 13.995/2005, Lei 14.266/2007 e Lei 15.649/2012. Por que essas leis não são respeitadas? O que a CET e a Prefeitura têm feito para efetivar essas normas?
Queremos respostas!

http://saxmozartfaggi.wordpress.com/2012/04/21/eutu-ele-ve/

1 de maio de 2014

Solidão não!

Apesar do frio e da gripe que se instalou em mim essa semana, fiquei muito feliz, pois tenho visto cada vez mais ciclistas encarando o trânsito de São Paulo.
Na segunda-feira, cheguei a contar seis ciclistas durante o meu trajeto de poucos quilômetros. Parece muito pouco, não é? Mas para mim, que sentia uma profunda solidão no trânsito, seis é uma multidão.
Outro encontro que me deixou imensamente feliz foi com uma senhora dos seus 60 anos, em sua bicicleta, aparentemente voltando do supermercado. Tive que segurar o ímpeto de ir lá e dar um grande beijo nela, pois a presença dela na rua é a prova viva de que é possível humanizar o trânsito de São Paulo. Consegui me conter e limitei-me a dar-lhe os parabéns.
Ocupar o nosso espaço é uma das formas mais eficientes de educar todos os agentes que compõem o trânsito: pedestres, motoristas, passageiros, motociclistas e agentes fiscalizadores.
É muito curioso observar a reação das crianças ao me ver pedalando pela cidade. Elas entortam o pescoço observando aquele ser estranho, com tantas luzinhas piscantes, usando capacete e uma roupa amarelo limão com refletivos. Torço para que elas comecem a achar normal ver ciclistas na rua, pois daqui a uma década elas estarão atrás dos volantes.
Estar na rua, por si só, é um ato de reivindicação de direitos.
A lei existe. Ela nos dá o direito de trafegar em qualquer via. E nós dá também a preferência em relação aos veículos automotores.
Portanto, caro motorista, seja gentil e respeite a lei. Não buzine, não acelere, não tente "dar uma fina" no ciclista. Ele tem preferência em relação ao seu automóvel, pois ele é mais fraco. Ele não tem um motor. Ele não polui e não causa congestionamentos. 
Esse é um ponto importante de ser discutido: apesar do ciclista não conseguir atingir a velocidade potencial de um automóvel, ele não causa congestionamentos. O que causa congestionamentos é a ocupação do espaço das vias por milhares de veículos carregando, em sua grande maioria, uma única pessoa. Se todas as pessoas estivessem em bicicletas, o trânsito fluiria facilmente...
Segundo pesquisa publicada pela CET em 2013, a velocidade média nas vias arteriais da cidade no horário de pico da tarde/noite é de 15 km/h, velocidade facilmente ultrapassada por qualquer bicicleta. Portanto, não nos culpe pelo seu atraso. Basta sinalizar, ultrapassar mantendo a distância de 1,5m e seguir em frente, na velocidade que a lei e o congestionamento permitirem.

ilustração: Rey Berto
fonte: http://espn.uol.com.br/fotos/406976_as-melhores-de-rey-berto-em-abril-de-2014-bike-e-legal