Ontem, um ciclista que estava na ciclovia da Av. Braz Leme
foi atropelado por um carro cujo motorista “perdeu o controle” da direção.
A notícia assusta, ainda mais
porque a ciclovia da Braz Leme fica no canteiro central, elevada em relação à
faixa de rolamento dos carros. É como se o carro tivesse subido a calçada.
Mas o que assusta mais do que a
notícia é o comentário de uma leitora do jornal O Estado de São Paulo:
“Começaram os acidentes, e não
será o único, estão fazendo ciclovias sem planejamento e sem saber se será
necessário e utilizadas. Onde moro fizeram uma que já proibi meus filhos de
usá-la, pois qualquer deslize ele sai fora da via e é atropelado. Sou contra
essas ciclovias.”
A leitora, em seu comentário,
dá a entender que a culpa pelo acidente é de quem construiu a ciclovia. Será?
Deveremos, então, apagar todas
as ciclovias do mapa de São Paulo? Deveremos também apagar todos os ciclistas?
Não seria melhor sumirmos com todos os pedestres das ruas de São Paulo e
entregá-las inteiramente aos carros? Quem sabe assim acabamos com os
atropelamentos...
Desculpem a ironia, mas
argumentos absurdos têm esse efeito sobre mim.
A bicicleta, segundo o Código
Brasileiro de Trânsito, é um veículo e, como qualquer outro veículo, motorizado
ou não, tem direito de ocupar as vias. A construção de ciclovias em algumas
ruas e avenidas tem como objetivo principal dar segurança ao ciclista.
Dizer que esse acidente ocorreu
e que outros ocorrerão por culpa da falta de planejamento na implantação das
ciclovias é absurdo, pois se não houvesse a ciclovia, o ciclista poderia estar
na avenida, ao lado dos veículos motorizados, e, aqui, deveria também ser
respeitado.
Não estou em defesa da
Prefeitura de São Paulo, mas, nesse caso, a culpa pelo acidente não é de quem
construiu a ciclovia, nem do ciclista, mas sim do motorista do veículo que
“perdeu o controle” deste.
Hoje de manhã, um outro
motorista “perdeu o controle” do carro e avançou sobre um ponto de ônibus.
Atropelou cinco pessoas, matando uma de imediato. Se seguirmos o raciocínio
daquela leitora, a culpa é de quem colocou o ponto de ônibus naquele local. Mas
que raios! Por que motivo alguém colocaria um ponto de ônibus sobre uma calçada
que poderia ser facilmente acessada por um veículo fora de controle?
Algumas notícias posteriores
dão conta de que esse motorista teria ingerido bebida alcoólica antes de
dirigir. Será que ele realmente “perdeu o controle”? Será que ele tinha o
controle do carro?
Algumas pessoas estão muito
bravas com a Prefeitura em razão da implantação das ciclovias. Em alguns casos,
estão bravas porque terão menos vagas para estacionar seus carros. Em outros,
estão bravas porque as ciclovias são vermelhas. Há, ainda, quem esteja bravo
porque estão investindo em estrutura para bicicletas e não para carros. Há,
também, quem esteja bravo por não ter tido essa ideia antes...
Segundo matéria publicada pelo
Portal G1 (http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/09/prefeitura-preve-rua-25-de-marco-na-lista-de-novos-64-km-de-ciclovias.html),
a cidade de São Paulo tem 17.200 km de vias pavimentadas. Quando tivermos os
400 km de ciclovias prometidos pela Prefeitura, a estrutura cicloviária de
nossa capital corresponderá a apenas 2,32% da estrutura total. Será que é pedir
demais que os ciclistas disponham de tão ínfima parcela na estrutura viária?
Eu sou ciclista, mas também sou
pedestre, motorista e passageira de transporte público. E, pela minha
experiência, pessoas imprudentes serão imprudentes seja qual for o meio de
transporte que utilizem. Toda essa discussão se resume à necessidade de mais
educação e respeito para todos os lados.
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